Jovem
escritor, romancista, ávido por novas descobertas, entediado por manter uma
escrita puramente comercial, na década de 70, resolvi sair e viajar pelo Brasil.
Semanas, meses e até anos num projeto ambicioso, em busca de
novas inspirações. Sozinho
e acompanhado, aqui e ali, de norte a sul do país, desvendando mistérios,
lendas, contos, folclores, fatos reais, que se transformaram em livros com
histórias que enalteciam a cultura de
cada região. Cidades maravilhosas,
lugarejos aconchegantes, povo receptivo, histórias fascinantes contadas por
eles enriquecendo meu acervo.
Todas
as noites, pegava meu caderno registrava com detalhes as informações
obtidas nas praças, nos bares, nas
pousadas. Interessante que cada um tinha um ponto de vista diferente sobre mesma
história. Quantos amores, coronéis, assassinatos, brigas, adultérios, traição,
milagres, acompanhavam o rico momento de
cada cidade provinciana. Para que eu
tivesse liberdade de ir e vir, decidi não me envolver emocionalmente, apesar de
ter sido assediado por belas jovens,
dignas de meu amor e carinho, porém o objetivo
era registrar o maior número de fatos que marcassem cada lugar. Um
envolvimento amoroso teria consequências devastadoras em minha trajetória em
divulgar o que cada cidade tinha para contar.
Com meu
trailer viajei todos os cantos do país. Pegava
estrada sem destino. Um dia após viajar dez horas sem parar, cheguei a Vila Velha no Espírito Santo, cidade exuberante
e encantadora, belezas naturais brotam da terra, como as flores nos jardins,
o movimento de cidade grande, porém mantendo o carinho e a cumplicidade do povo
interiorano, quantas histórias teria ali para registrar. Apesar de cansado,
andei mais alguns quilômetros a procura de um lugar que pudesse montar meu
acampamento.
Impulsionado pela beleza de uma trilha adentrei-me na mata. Estacionei
meu carro á beira de um grande lago, onde da outra margem pequenas montanhas se
destacavam como uma linda obra da natureza, dando aquele lugar uma beleza incomparável.
Inspirações repentinas tomaram conta de meu ser, uma pequena fogueira aquecia
meus pés, com uma caneta nas mãos viajei com minha imaginação por lugares
maravilhosos até adormecer.
Ao amanhecer fui surpreendido com o sol e sua exuberante altivez coloriu o céu de um alaranjado, dando as
montanhas que cercavam o lago uma sobriedade matinal transmitindo um
acalentador desejo de viver. Não satisfeito em me emocionar, a natureza
espelhava o reflexo da luz do sol em suas águas e ao centro um pequeno barquinho
a vela deslizava tranquilamente. Eu já havia despertado, embora acreditasse que
estava ainda sonhando, pois a imagem que
tinha diante de meus olhos parecia uma
obra de arte que a natureza me presenteava. Enquanto admirava o cenário algo me
chamou a atenção. Daquele barquinho saltou um corpo escultural e mergulhou nas
águas cristalinas, criando ondas suaves, onde a cada braçada aproximava-se da
margem uma bela jovem, que ergueu seus belos olhos negros, cabelos lisos e
molhados e de pele bronzeada vindo em
minha direção.
Atônito, permaneci em silêncio. Seduzido
a tanta beleza, observei-a sentando-se ao meu lado e pedindo-me uma tolha,
enquanto enxugava seus cabelos fez inúmeras perguntas a meu respeito, convidou-me
a nadar puxando-me pelas mãos. Enfeitiçado, não ousei contrariá-la. Mergulhamos juntos, brincamos
com os peixes, nadamos como se nos conhecêssemos a tempos. O reflexo do sol
iluminava o lago, colorindo a vegetação que num bailado incessante dava a
correnteza a certeza que fazíamos parte
daquela paisagem sedutora, onde jovens namorados faziam amor embriagados pela
ternura e emoção. O cenário nos envolveu com uma paixão fulminante.
Nadamos até o barquinho, entre beijos e carinhos serviu-me
iguarias. O amor exalava por nossos poros, vivemos horas de verdadeira paixão.
Senti que havia provado o néctar dos deuses.
Precisava voltar ao trailer para buscar meus pertences. Ela pedia
para que eu não fosse, que eu ficasse ao seu lado. Sorri demonstrando minha
satisfação e meu interesse em retornar, e jurando amor eterno mergulhei em
direção a margem onde voltaria imediatamente a fim de ficar ao seu lado pelo
resto de minha vida.
Entre um mergulho e outro, eu gritava para que ficasse tranquila,
pois voltaria o mais rápido possível. Ao avistar o trailer nadei ainda mais
rápido. Aprecei-me em pegar algumas roupas, meu bloco de anotações para
registrar tudo que estava acontecendo. Ao deixar o trailer fui surpreendido ao
notar que o barquinho havia sumido. Mergulhei, nadei por horas, e nada de encontrar a mulher
que pela primeira vez em minha vida mexeu com meus sentimentos, nem seu nome eu
sabia, apenas sentia que era a mulher de
minha vida. Retornei as margens, o sol parecia estar parado como se só existisse
o amanhecer, mantendo a beleza das montanhas
e o reflexo nas águas. Procurei a
pela morena e os olhos negros que me fascinaram, todavia
somente o barquinho deixara de emoldurar a beleza da paisagem que
destroçou meu coração de tanto amor. Por dias permaneci no acampamento, esperei
exaustivamente o seu retorno, procurei as autoridades do lugar que me ajudaram
na busca, mas sem nenhum sucesso. Aluguei um quarto no hotel, o mais antigo do
lugar, para conhecer melhor a cidade e continuar minha busca em todos os
lugares. Quando sai para jantar, notei
que no salão principal sobre a lareira havia uma escultura de bronze.
A escultura era de uma mulher, corpo escultural, com os cabelos
lisos como se molhados. Tive certeza, era
a jovem do lago, a minha musa. Busquei informações sobre aquela escultura.
Contaram-me uma triste história. “Um homem abandonado pela esposa, temendo que
sua filha também o deixasse, trancou-a
num casebre á beira do lago. Dizem que certo dia, ao amanhecer, tendo o somente
o sol como testemunha, a jovem desejosa de mudar o destino de sua vida, conseguiu escapar do casebre, avistou um barquinho no lago e tentou mergulhar
até ele, sem saber nadar, debateu-se desesperadamente nas águas, afogou-se e seu corpo nunca fora encontrado.
Dizem que toda manhã o sol brinda os turistas com um raio que os
leva aos seus braços, e ela busca na eternidade um amor que a faça realmente
feliz”.
Continuei a viajar pelo Brasil, escrevendo e anotando minhas inspirações, mas sempre que posso volto ás margens do lago em Vila Velha, na
esperança de um dia poder ser por ela escolhido para viver na eternidade, como
o dito popular do local, descreve com tanta ternura.
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