Aproximadamente a cada dez anos a loja passava por
reformas, mas em
nenhum momento Sr. Chaib permitia que tocassem na vitrine,
pois a mesma tornara-se um marco, passando até mesmo a ser um ponto turístico,
levando seu comércio a crescer continuamente. Com o passar das décadas, a loja
ganhou novo aspecto, apesar do vestido exposto na vitrine estar obsoleto, ainda
o mantinha como seu layout, tornando-se o símbolo, a marca da empresa.
1970. Após novos investimentos, as filiais chegaram a
outros bairros, gerenciadas pelos netos. A loja matriz também se transforma,
nem parecia a mesma casa construída no início do século. Os novos
administradores não ousavam tocar na vitrine. Esporadicamente faziam a limpeza
dos vidros, deixando-os sempre com aspecto de novos.
1980 o bisneto mais velho de Sr. Chaib iniciou seus
estudos a fim de se preparar para assumir os negócios. Dez anos depois, Adib
após concluir seu doutorado em administração, assume a empresa. Sua primeira
atitude fora solicitar a demolição da vitrine, pois com seu conhecimento
acadêmico considerava aquele símbolo ultrapassado. Não combinava mais com o
novo estilo da loja. Muitos tentaram impedir que a derrubasse, mas Adib não deu
ouvidos, e aquela vitrine tão estimada por muitos chegava ao fim. Ordenou que
guardassem o vestido, que estava perfeito. Sua cor continuava viva. Adib
sentia-se aliviado por não ver mais a velha vitrine.
Na manhã seguinte ao chegar na loja, levou um susto,
olhou para cima e viu a vitrine com o vestido no mesmo lugar, como se não
tivessem a tirado dali. Ficou indignado com tamanha ousadia, quem o teria
desobedecido? Novamente ordenou a demolição da vitrine, os funcionários
envolvidos demonstravam contrariedade, mas obedeceram, e foram obrigados a cortar
o vestido. Ao amanhecer Adib voltou na loja, e não acreditou no que viu, estava
surpreso. Lá estava a vitrine intacta novamente, e o vestido que mandara
picotar, estava no manequim como antes. Ficou transtornado, pois ele mesmo viu
quando iniciaram o trabalho de demolição. Decidiu ver de perto o que estaria
acontecendo.
Naquela madrugada descobriria quem estaria lhe enfrentando. Ordenou
novamente que a derrubassem e sumissem com o vestido. Meia noite, a rua estava deserta. Adib
aguardava sem saber o quê, e nem a quem. Aproximadamente 01:00 hora da manhã,
ouviu barulho, eram vozes. Viu a certa distância um grupo de pessoas,
aproximando-se da loja, os homens estavam trajados com ternos pretos, as
mulheres com vestidos compridos de cores escuras e lenços na cabeça. Traziam
ferramentas, vidros, e objetos de costura. Viu quando eles entraram na loja e
rapidamente reconstruíam a vitrine, as mulheres costuravam o vestido
cuidadosamente.
Adib tentava sair do lugar onde estava, mas não
conseguia, parecia estar imobilizado. O tempo a sua volta passava muito rápido,
queria falar, mas também não conseguia. Assim que a vitrine estava erguida,
Adib conseguiu se mover e correu em direção àquelas pessoas que partiam e aos
gritos questionou-os como ousavam mexer em sua propriedade? Todos pararam
olhando-o fixamente, uma senhora tomou a frente e respondeu-lhe que aquela
vitrine era a responsável pelo sucesso da loja
e que a ele fora dado a missão de preservá-la, disse-lhe ainda que não
se constrói um futuro sem dar o devido valor ao passado.
Adib naquele
momento reconheceu os rostos daquelas pessoas. Surpreso percebeu que eram os
mesmos dos retratos espalhados pelo escritório, eram os fundadores da loja,
eram seus familiares, que ainda estavam ao seu lado, lutando para manter aquele
patrimônio e a família unida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário