No estado do Amazonas
existia uma cidadezinha que era um verdadeiro paraíso ecológico. Havia
interesse por parte do governo povoar aquele local. Há muitos anos vinha
tentando incentivar o turismo no município e criando uma estrutura para receber
os turistas, mas sem resultados. Várias pessoas tentaram visitar a cidade, iam
com intenção de conhecer ou mesmo ficar, porém quase todos acabavam desistindo
sem nem mesmo chegar no local, pois para ter acesso era preciso atravessar
grandes lagos, além de enfrentar uma floresta onde habitavam muitos animais
selvagens, principalmente as onças pintadas entre outras feras. Muitos morreram
pelo caminho. Outros não conseguiram terminar o percurso por insegurança ou
medo.
Adriano, um jovem paulista
de 30 anos, capacitado, prometia um futuro de sucesso, porém não conseguia
firmar-se na capital, nada o apetecia. Não se identificava com algumas pessoas,
nem tão pouco com determinados trabalhos, tudo para ele parecia insuficiente.
Apesar de formado e com boas perspectivas de trabalho não se sentia realizado.
Decidiu então buscar ajuda de um psicólogo para aprender a lidar com o problema
que o incomodava.
No consultório, enquanto
aguardava para ser atendido, folheava uma revista já antiga, e viu uma notícia
anunciada de maneira bem discreta sobre uma pequena cidade do Amazonas. De
repente, sentiu um forte desejo de conhecer aquele lugar, procurou saber mais
detalhes e descobriu o interesse do governo em povoar a pequena cidade.
Empolgado com a ideia, organizou um grupo de pessoas que tinham interesse em
conhecer o vilarejo. Foram informados dos perigos e as dificuldades que
enfrentariam, no entanto, o espírito aventureiro falou mais alto e programaram
a viagem.
A excursão duraria oito dias. No decorrer da semana
as desistências foram acontecendo. Ao chegarem a um local próximo, restavam
somente quatro homens, entre eles, Adriano. Estavam bem equipados e armados
para própria defesa. Entraram mata adentro, rumo ao destino curioso e incerto.
Andaram mais três dias. No caminho depararam com uma grande pedra. Ouviram
ruídos e notaram que ali abrigavam-se algumas onças pintadas. Apavorados com as
feras começaram a atirar. Adriano foi o único que não atirou, nem mesmo para se
defender.
Um dos homens foi atacado
por uma delas e acabou falecendo. Apesar de preocupados, continuaram o trajeto.
Mais adiante encontraram outra onça que num novo ataque, deixou o outro colega
gravemente ferido, fazendo-os abdicar do desafio. E assim sobrou apenas Adriano
que não desistiu, apesar de inseguro, algo o atraía para o local.
Percebeu que havia outras onças nas
redondezas. Acreditava que era questão de tempo; mais cedo ou mais tarde
acabaria sendo atacado e morrendo. Mas ainda assim seguiu. Procurou abrigo para
proteger-se. Encontrou uma caverna muito pequena, mal cabia uma pessoa, entrou
de costas, quase não podia se mexer, deslocou algumas pedras para frente da
caverna a fim de se esconder de uma onça que estava rondando o lugar. Ela se
aproximava da caverna. Chegou perto e com suas enormes patas empurrou as pedras
que ele com muito custo havia colocado na entrada, enfiou o focinho no buraco de frente com ele.
Adriano ficou estático. A onça fazia um movimento com a cabeça como quem dizia
para ele sair da caverna, e recuava alguns metros como que dando passagem. Ele,
porém, não entendia e não acreditava no que estava acontecendo. A fera
novamente se aproximava e fazia sinal com a cabeça para que ele saísse. Adriano
viu que as outras onças formaram uma barreira como se fossem protegê-lo.
Timidamente foi saindo da caverna. A onça se afastou e foi caminhando à sua
frente. Adriano entendeu a mensagem e a seguiu, acompanhado pelas onças que a
distância o protegia.
Chegou num lugar
maravilhoso, um verdadeiro paraíso. Lá viu espécies de animais que considerava
já extintos e outros que nunca vira antes. A natureza era exuberante e de uma
riqueza infinita. Avistou algumas cabanas. A onça praticamente o levou até uma
tapera. Ao se aproximar, um senhor de idade bem avançada, o recebeu como se já
estivesse o esperando. Adriano não acreditava que havia chegado vivo. Contou
para o senhor sobre os sinais que a onça fizera, e comentou sobre os perigos
que passou. Dizia que algo o atraía para lá, e não conseguia desistir, como
tantos fizeram.
O senhor afirmou que o mesmo aconteceu com
ele e com todas as pessoas que ali estavam. Mostrou-lhe outras cabanas de
pessoas que moravam ali apenas para preservar aquela reserva. Adriano entendeu
que ali estava a mão de Deus, que confiou a todos eles a missão de preservar
aquele lugar e aqueles animais.
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