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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

“ ONÇA PINTADA”







No estado do Amazonas existia uma cidadezinha que era um verdadeiro paraíso ecológico. Havia interesse por parte do governo povoar aquele local. Há muitos anos vinha tentando incentivar o turismo no município e criando uma estrutura para receber os turistas, mas sem resultados. Várias pessoas tentaram visitar a cidade, iam com intenção de conhecer ou mesmo ficar, porém quase todos acabavam desistindo sem nem mesmo chegar no local, pois para ter acesso era preciso atravessar grandes lagos, além de enfrentar uma floresta onde habitavam muitos animais selvagens, principalmente as onças pintadas entre outras feras. Muitos morreram pelo caminho. Outros não conseguiram terminar o percurso por insegurança ou medo.
Adriano, um jovem paulista de 30 anos, capacitado, prometia um futuro de sucesso, porém não conseguia firmar-se na capital, nada o apetecia. Não se identificava com algumas pessoas, nem tão pouco com determinados trabalhos, tudo para ele parecia insuficiente. Apesar de formado e com boas perspectivas de trabalho não se sentia realizado. Decidiu então buscar ajuda de um psicólogo para aprender a lidar com o problema que o incomodava.
No consultório, enquanto aguardava para ser atendido, folheava uma revista já antiga, e viu uma notícia anunciada de maneira bem discreta sobre uma pequena cidade do Amazonas. De repente, sentiu um forte desejo de conhecer aquele lugar, procurou saber mais detalhes e descobriu o interesse do governo em povoar a pequena cidade. Empolgado com a ideia, organizou um grupo de pessoas que tinham interesse em conhecer o vilarejo. Foram informados dos perigos e as dificuldades que enfrentariam, no entanto, o espírito aventureiro falou mais alto e programaram a viagem.
 A excursão duraria oito dias. No decorrer da semana as desistências foram acontecendo. Ao chegarem a um local próximo, restavam somente quatro homens, entre eles, Adriano. Estavam bem equipados e armados para própria defesa. Entraram mata adentro, rumo ao destino curioso e incerto. Andaram mais três dias. No caminho depararam com uma grande pedra. Ouviram ruídos e notaram que ali abrigavam-se algumas onças pintadas. Apavorados com as feras começaram a atirar. Adriano foi o único que não atirou, nem mesmo para se defender.
Um dos homens foi atacado por uma delas e acabou falecendo. Apesar de preocupados, continuaram o trajeto. Mais adiante encontraram outra onça que num novo ataque, deixou o outro colega gravemente ferido, fazendo-os abdicar do desafio. E assim sobrou apenas Adriano que não desistiu, apesar de inseguro, algo o atraía para o local. 
 Percebeu que havia outras onças nas redondezas. Acreditava que era questão de tempo; mais cedo ou mais tarde acabaria sendo atacado e morrendo. Mas ainda assim seguiu. Procurou abrigo para proteger-se. Encontrou uma caverna muito pequena, mal cabia uma pessoa, entrou de costas, quase não podia se mexer, deslocou algumas pedras para frente da caverna a fim de se esconder de uma onça que estava rondando o lugar. Ela se aproximava da caverna. Chegou perto e com suas enormes patas empurrou as pedras que ele com muito custo havia colocado na entrada,  enfiou o focinho no buraco de frente com ele. Adriano ficou estático. A onça fazia um movimento com a cabeça como quem dizia para ele sair da caverna, e recuava alguns metros como que dando passagem. Ele, porém, não entendia e não acreditava no que estava acontecendo. A fera novamente se aproximava e fazia sinal com a cabeça para que ele saísse. Adriano viu que as outras onças formaram uma barreira como se fossem protegê-lo. Timidamente foi saindo da caverna. A onça se afastou e foi caminhando à sua frente. Adriano entendeu a mensagem e a seguiu, acompanhado pelas onças que a distância o protegia.
Chegou num lugar maravilhoso, um verdadeiro paraíso. Lá viu espécies de animais que considerava já extintos e outros que nunca vira antes. A natureza era exuberante e de uma riqueza infinita. Avistou algumas cabanas. A onça praticamente o levou até uma tapera. Ao se aproximar, um senhor de idade bem avançada, o recebeu como se já estivesse o esperando. Adriano não acreditava que havia chegado vivo. Contou para o senhor sobre os sinais que a onça fizera, e comentou sobre os perigos que passou. Dizia que algo o atraía para lá, e não conseguia desistir, como tantos fizeram.
  O senhor afirmou que o mesmo aconteceu com ele e com todas as pessoas que ali estavam. Mostrou-lhe outras cabanas de pessoas que moravam ali apenas para preservar aquela reserva. Adriano entendeu que ali estava a mão de Deus, que confiou a todos eles a missão de preservar aquele lugar e aqueles animais.



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